Friday, March 30, 2007

O violino mais valioso do mundo

Instrumento de corda de som inigualável. O timbre agudo atravessa as entranhas e envolve o corpo todo, levando aqueles de ouvido mais aguçado a pensar que toda sua vida, naquele momento, segue o ritmo saído de uma pequena caixa de madeira...
Lorena tinha cara de mau-humorada. Os homens a chamavam de mulher-homem, e mantinham distância. Quando criança, pegava o violino de seu pai concertista escondido e aprendeu a tocá-lo sozinha, no porão da casa. Um dia, o pai, atrasado para o concerto, encontrou o instrumento nas mãos da menina. Pegou-lhe o arco da mão, com que surrou seu rosto. A violinista dos becos escuros e úmidos tinha cicatrizes na face, formando uma figura semelhante a uma teia de aranha. Mulher. Estava fadada aos fungos.
Ramón era exímio violinista, “mas tinha umas idéias estranhas na cabeça, assim como toda sua família”, comentavam os vizinhos. Quando a família desapareceu, deixando a casa com móveis e tudo, os vizinhos ficaram sabendo que o rapaz tocava para os generais do exército. Privilegiado pelo seu talento, e classificado como retardado por não dirigir uma só palavra a ninguém, era chamado para tocar em reuniões do poder. Comentou-se, na época, que Ramón liderou uma rebelião de prisioneiros do exército que quase causou um colapso na ditadura militar. Foi executado em seguida.
Seu Antônio tocou pela vida. Seja porque vivia pela música, seja porque precisava dela para viver. Aprendeu o ofício com o pai, em um violino velho que ele usava para tocar em quermesses. Preferiu Paganini. Tentou tocar o mestre em vários bares das proximidades, mas os freqüentadores reclamaram de sono ou depressão. Tocou “Asa Branca” todas as noites por algumas moedas, às vezes cerveja que, decepcionado, dava aos bebuns do lugar.
O bilionário Sam Willian Davis comprou, na casa de leilões Christie’s, um violino Stradivari datado de 1720, por 1,78 milhões de dólares. Guarda-o com muito cuidado em sua mansão, em um local reservado livre da luz do sol e da umidade. Passava em frente a ele todas as manhãs, parava, sorria, e tragava seu charuto, cujo aroma ficava impregnado no robe cor de vinho em seda. Parou de fazê-lo já há algum tempo. Mas de vez em quando, quando chama os amigos para um jantar, entrega o violino ao sobrinho de um dos colegas que, maravilhado, toca uma música qualquer. Enquanto isso, Davis conta para os convidados a fabulosa aventura de como adquiriu um dos violinos mais valiosos do mundo.

1 comment:

Unknown said...

Eu amo você...